quinta-feira, 5 de abril de 2012

Qual o seu hobbie?

Um colega de trabalho me fez a seguinte pergunta durante um almoço:

 - Carlos, você têm algum hobbie?

Claro que não respondi "de seda", afinal, ao contrário da lendária resposta da Carla Perez (só pode ser lenda), não tenho e nem quero ter um. Pensei alto o suficiente para ser ouvido à distância de 1 metro - Qual o meu hobbie? - e descobri algo sobre mim que já sabia, mas nunca tinha parado para realmente descobrir que já sabia.

Os seres humanos, nós, temos uma mania de classificar tudo, inclusive nós mesmos, o que nem sempre é legal, nem sempre é justo e quase sempre impreciso. Meu amigo Geraldo, que também trabalha comigo, me disse uma vez que podemos classificar as pessoas em dois grupos, as que "sabem quase nada de quase tudo" e as que "sabem quase tudo de quase nada". Adaptando essa classificação à resposta que dei ao meu colega, diríamos que "sei quase nada de quase tudo" em matéria de hobbies.

Em suma, não tenho um mas vários hobbies, porém sem muito apego ou profundo conhecimento, não sou muito fiel a nenhum deles, e com relativa constância promovo trocas entre eles (às vezes um simples revezamento, outras um abrupto abandono).

Já joguei muito video-game, dediquei um bom tempo ao violão, colecionei tazo, figurinhas do rei leão, futebol e uns álbuns que "davam prêmios" (alguém já ganhou algum?)... já colecionei brinquedos de Kinder Ovo, pontas de lápis e pensei até em colecionar cartões telefônicos, pretensão que não levei à termo pois era novo demais para ficar no bar da esquina pegando os cartões sem crédito que as pessoas deixavam no orelhão... atualmente estou tentando montar uma pequena biblioteca, comprando e lendo alguns livros de assuntos variados. 

Você tem algum hobbie?

Uma das últimas aquisições foi a coleção do Guia do Mochileiro das Galáxias. Confesso que não sei ainda o que vi nos devaneios humoristicamente ácidos e quase cínicos de Douglas Adams, talvez tenha gostado de verdade mesmo de algumas páginas, o prefácio em especial, palavras de um dito ateu que poderiam perfeitamente ser de um cristão peculiarmente criativo. Assim ele descreve o nosso planeta e sociedade:

"Este planeta tem o seguinte problema: a maioria de seus habitantes estava quase sempre infeliz... foram sugeridas muitas soluções para esse problema, mas a maior parte delas dizia respeito basicamente à movimentação de pequenos pedações de papel colorido com números impressos, o que é curiosos, já que no geral não eram os tais pedaços de papel colorido que se sentiam infelizes"

(Recomendo aos que não gostam de ler desabafos ou textos que fale de corrupção, nosso comportamento como sociedade e como poderíamos ser diferentes (alguns encaram como lição de moral) pararem de ler nesse ponto, com pena de me achar um chato de galocha.)

Você captou que assim como Douglas sou uma daquelas pessoas que não esperam encher o bolso para ser feliz. Inclusive se pararmos para pensar fora da roda gigante (ou caixa), como Douglas fez, vamos perceber que toda essa história dos papéis circulando (e tudo mais que gira em torno disso) é muito estúpido mesmo. Poderíamos ser organizados a viver de forma diferente, o sistema poderia ser diferente, mas infelizmente não é, e talvez nunca venha a ser. Provavelmente não vamos conseguir viver em uma sociedade sem a sustentabilidade de plástico, a corrupção, o ter sem ser, o pão e circo (às vezes só circo) e tudo mais  que funciona em prol de fazer circular os pedações de papel que teoricamente fariam cessar nossa infelicidade, só nossa, esquecendo é claro a do outro.

Às vezes esse discurso parece descolado do nosso campo de ação e responsabilidade, como se estivéssemos em uma posição impotente, apontando para a direção daqueles que são responsáveis por toda injustiça, corrupção e miséria da humanidade. Cada vez mais acredito que essas pessoas são bem parecidas conosco, são os mesmos seres humanos que andam ao nosso lado na escola, trabalho, trânsito. Por alguma razão esses foram levados a ocupar uma posição de destaque, e embora suas escolhas tenham uma maior repercussão ou impacto na sociedade,  sua escolhas são análogas às que fazemos todos os dias ao receber um troco errado, ao fazer a declaração do imposto de renda, ao negociarmos um produto, ao necessitar de uma vaga no supermercado, enfim, diante de uma oportunidade para levar vantagem ou não se dar mal.

Às vezes nos deparamos com um comportamento que considera uma mentirinha, uma sonegaçãozinha ou uma paradinha em vaga proibida perfeitamente justo visto que todo mundo faz. Será que não teríamos o mesmo comportamento que criticamos nos indivíduos que ocupam uma posição de destaque?

Talvez a diferença entre uma ação tolerável e outra intolerável seja utilizar o diminutivo ao descreve-la. 

O crepúsculo dessa tarde de quinta está igual ao meu texto (nenhuma referência ao pseudo filme de vampiros), portanto antes que a coisa fique mais escura vou fechar no seguinte ponto:

Podemos viver nessa sociedade sem nos ajustarmos a algumas práticas que parecem indispensáveis para alcançar a felicidade no sistema?

Eu ainda acredito que sim, e acredito ainda que enxergando como algumas coisas funcionam, somos impulsionados buscar novas condutas, em cada simples ação ser a mudança que gostaríamos de ver.

Talvez você está se perguntando, " - Sobre o quê esse cara tá falando afinal?"
É um pouco sobre isso aqui:



Voltando ao hobbie, alguém tem um livro bom sobre Martin Luther King prá me indicar, gostaria de ter um desses na minha biblioteca.

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